NOTA SOBRE O DESABAMENTO NA IGREJA DE SÃO FRANCISCO NO CENTRO HISTÓRICO DE SALVADOR

O Mestrado Profissional em Conservação e Restauração de Monumentos e Núcleos Históricos – MP-CECRE lamenta profundamente e se solidariza com os familiares e pessoas amigas de Giulia Righetto, que faleceu na última quarta-feira após o colapso de parte do forro da Igreja de São Francisco. É realmente lastimável que uma vida tenha sido perdida (e poderiam ter sido muitas mais) para que o país volte a olhar para o seu patrimônio cultural e discuta sobre a urgência de se prover recursos humanos e financeiros, procedimentos e instrumentos para melhor salvaguardá-lo. A responsabilidade de transmitir a herança cultural que herdamos do passado para as gerações futuras é tarefa complexa e desafiadora que precisa ser enfrentada coletivamente pelos múltiplos agentes implicados na preservação e valorização do patrimônio.
A perda dessa importante obra de arte do século XVIII é um alerta para a precária condição em que se encontra o patrimônio cultural brasileiro, uma deplorável consequência da ausência de políticas públicas e projetos de educação patrimonial que propiciem a preservação e fruição das edificações que caracterizam diferentes momentos da história e da cultura brasileira. O luto e a tristeza desse desastre nos chamam a refletir sobre como a preservação é conduzida no país e sobre a importância do envolvimento constante de todos os agentes sociais e institucionais que, de um modo ou de outro, se relacionam com o patrimônio cultural. Conhecer e reconhecer a importância do que perdemos nessa quarta-feira, 05 de fevereiro de 2025, talvez seja um primeiro passo fundamental para compreendermos a importância de preservar objetos e manifestações que estruturam nossa cultura, nossa história e nosso povo, que nos situam e nos dão sentido de pertencimento.
O forro da Igreja de São Francisco compunha uma das mais importantes e íntegras obras artísticas brasileiras, constituindo um espaço inebriante e surpreendente, que impressiona e demostra a força das instituições católicas ao longo de nossa história, sendo ainda um lugar de culto e devoção que nunca deixou de realizar suas funções. Na Igreja da Ordem Primeira de São Francisco, a sobriedade da imponente fachada esconde um interior dourado, de talha reluzente que rompe a dureza do espaço arquitetônico interno ortogonal e que se encontra agora mutilado. Neste ambiente hipnótico, os altares, retábulos, lustres, painéis, forros, abóbadas de madeira – elementos decorativos agregados, profusamente ornamentos e cobertos de ouro – eliminam a possibilidade de identificação dos contornos arquitetônicos rígidos da estrutura tipológica do edifício. O forro, para além de seu valor individual, compunha de modo indelével essa espacialidade de colossal valor artístico, histórico, religioso e cultural, reconhecida local, nacional e internacionalmente.
Nesse momento, o corpo docente do MP-CECRE se coloca à disposição para colaborar no processo de restauração do Conjunto Franciscano, assim como, auxiliar na elaboração de diagnósticos de degradação e no desenvolvimento de ações de conservação preventiva e educação patrimonial.
Foto: Rodrigo Baeta, 2012